Brasil mantém projeção de crescimento em 2% enquanto tensões comerciais desafiam economia global
Em meio a um cenário de desaceleração da inflação e manutenção da taxa de juros elevada, o Brasil segue com perspectivas de crescimento moderado para 2025, enquanto a economia global enfrenta desafios significativos devido ao aumento das tensões comerciais entre as principais potências econômicas.
ECONOMIA


Cenário Econômico Brasileiro
De acordo com o boletim Focus divulgado pelo Banco Central na última segunda-feira (12), a expectativa do mercado financeiro para a inflação brasileira em 2025 caiu pela quarta semana consecutiva, passando de 5,53% para 5,51%. Esta tendência de queda, embora modesta, sinaliza uma possível estabilização dos preços após um período de pressões inflacionárias.
"A redução nas expectativas de inflação é um sinal positivo, mas ainda estamos acima da meta estabelecida pelo governo", explica o economista Paulo Ribeiro, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. "O desafio continua sendo equilibrar o controle inflacionário com o estímulo ao crescimento econômico."
Apesar da tendência de queda na inflação, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou recentemente a taxa Selic para 14,75% ao ano, um aumento de 0,5 ponto percentual. Segundo o boletim Focus, a expectativa é que essa taxa seja mantida até o final de 2025, com redução prevista apenas para 2026, quando deve cair para 12,50%.
Quanto ao crescimento econômico, o mercado mantém a projeção de que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro crescerá 2% em 2025, mesmo percentual projetado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) em seu último relatório. Este número representa uma desaceleração em comparação ao crescimento de 3,4% registrado em 2024, quando o PIB alcançou R$ 11,7 trilhões, segundo dados do IBGE.
No mercado de câmbio, a previsão para o dólar ao final de 2025 foi revisada para baixo, de US$ 5,86 para US$ 5,85, indicando uma leve valorização do real frente à moeda americana.
Panorama Econômico Mundial
No cenário internacional, o FMI alerta para desafios significativos na economia global, principalmente devido ao recrudescimento das tensões comerciais entre as principais potências econômicas. Em discurso recente durante as Reuniões de Primavera de 2025, Kristalina Georgieva, diretora-geral do FMI, destacou que "a volatilidade do mercado financeiro está crescendo" e que "a incerteza em torno da política comercial literalmente não cabe em nenhum gráfico".
O FMI mantém a projeção de crescimento global em 3,3% para 2025 e 2026, abaixo da média histórica de 3,7% observada entre 2000 e 2019. Para as economias avançadas, a expectativa é de um crescimento mais modesto, de 1,4% em 2025, enquanto para as economias emergentes e em desenvolvimento, a projeção é de 3,7% em 2025 e 3,9% em 2026, com revisões em baixa para diversos países.
A China, segunda maior economia do mundo, deve crescer 4% tanto em 2025 quanto em 2026, segundo as projeções do FMI, um ritmo inferior ao histórico do país asiático, mas ainda acima da média global.
Georgieva alertou que o aumento das barreiras comerciais afeta o crescimento de imediato e que "o protecionismo deteriora a produtividade no longo prazo, sobretudo nas economias menores". Segundo ela, a incerteza prolongada aumenta o risco de estresse nos mercados financeiros, como já observado em movimentos incomuns em alguns dos principais mercados de títulos e moedas no início de maio.
Impactos para o Brasil
O Brasil, como economia emergente com forte dependência do comércio internacional, especialmente de commodities, pode ser significativamente afetado pelo cenário global de tensões comerciais. No entanto, a diversificação de parceiros comerciais e o fortalecimento do mercado interno têm sido apontados como fatores que podem mitigar esses impactos.
"O Brasil tem uma posição relativamente privilegiada em termos de segurança alimentar e energética, o que pode ser um diferencial importante nesse cenário de fragmentação do comércio global", avalia Maria Helena Santos, economista-chefe de uma importante instituição financeira brasileira.
Os desafios para a economia brasileira nos próximos meses incluem a manutenção da trajetória de queda da inflação, a gestão da dívida pública e a implementação de reformas estruturais que possam impulsionar a produtividade e atrair investimentos, mesmo em um cenário externo desafiador.
A próxima reunião do Copom, marcada para os dias 17 e 18 de junho, será um importante indicador da direção da política monetária brasileira frente aos desafios domésticos e internacionais que se apresentam para o restante de 2025.