Retaliação do Brasil aos EUA pode afetar dólar, inflação e bolsa

Economistas alertam para os impactos negativos que uma possível retaliação do Brasil às tarifas impostas pelos Estados Unidos pode causar na economia nacional, afetando o dólar, a inflação e a bolsa de valores. A tensão comercial entre os dois países gera incertezas e exige cautela nas decisões políticas.

DESTAQUEECONOMIA

William Campos

7/11/20253 min read

O cenário econômico brasileiro se encontra em um momento de grande apreensão diante da possibilidade de uma retaliação do Brasil às recentes tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos sobre produtos importados brasileiros. Economistas consultados pela CNN Brasil alertam para um panorama de impactos negativos que podem se manifestar na queda da bolsa de valores, na volatilidade do dólar e na alta da inflação. Essa situação, desencadeada pela decisão do presidente americano Donald Trump, exige uma análise cuidadosa e decisões estratégicas por parte do governo brasileiro para mitigar os riscos e proteger a economia nacional.

A medida de sobretaxa, anunciada por Trump na última quarta-feira (9) e com validade a partir de 1º de agosto, representa um desafio significativo para o Brasil. A decisão americana, que visa proteger o mercado interno dos EUA, pode, por outro lado, impulsionar o Brasil a buscar novos parceiros comerciais. A China e a União Europeia surgem como alternativas viáveis para o direcionamento das exportações brasileiras, o que poderia, em tese, compensar as perdas decorrentes das tarifas americanas. No entanto, a transição para novos mercados não é imediata e pode gerar instabilidade no curto prazo.

Pedro Moreira, sócio da One Investimentos, destaca que um dos primeiros impactos de uma retaliação brasileira seria o aumento dos preços de produtos de tecnologia com alto valor agregado. Esses itens, essenciais para o varejo, a indústria e o setor de serviços, teriam seus custos elevados, resultando em uma queda no consumo por parte dos consumidores. Consequentemente, o faturamento e o lucro das varejistas seriam afetados, o que não seria um bom sinal para o Ibovespa. Além disso, a importação de insumos para as companhias locais também ficaria mais cara, elevando os gastos e reduzindo as margens de lucro, impactando diretamente a saúde financeira das empresas.

Felipe Salto, economista-chefe da Warren Investimentos, corrobora essa análise, apontando que a sobretaxa sobre as importações norte-americanas levaria a uma maior volatilidade da taxa de câmbio. A recente valorização do dólar, que fechou a R$ 5,54 um dia após o anúncio da tarifa, em comparação com os R$ 5,40 registrados em 3 de julho, demonstra a sensibilidade do mercado a essas notícias. A incerteza em relação ao dólar pode, por sua vez, afetar a inflação e os setores produtivos locais. Salto enfatiza que o impacto sobre a produção, tanto no agronegócio quanto na indústria de transformação, pode comprometer as condições de oferta e, consequentemente, o emprego no país. Caso as tarifas persistam, os efeitos podem ser bastante significativos para a economia brasileira.

Patrick Buss, operador de renda variável da Manchester Investimentos, complementa que uma retaliação brasileira afastaria investidores estrangeiros da bolsa de valores e das companhias locais, provocando a saída de capital e pressionando ainda mais o real. Essa saída de capital, em efeito cascata, poderia elevar a percepção de risco-país, afetando os títulos públicos e aumentando o custo de captação para as empresas brasileiras. De modo geral, mesmo focada nas importações, a retaliação pode desencadear reações negativas amplas no ambiente macroeconômico e financeiro, gerando um cenário de instabilidade e incerteza para o Brasil.

Leonardo Trevisan, professor de relações internacionais da ESPM, sugere que a substituição dos parceiros comerciais pode amenizar os efeitos de uma possível retaliação brasileira. Ele argumenta que a decisão de Trump pode favorecer a aproximação do Brasil com a China e com a União Europeia, o que seria uma alternativa estratégica para o país. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) já se manifestou, afirmando que a tarifa adicional de 50% prejudica as economias dos dois países, causando danos a empresas e consumidores. Trevisan conclui que, quanto mais os Estados Unidos pressionarem o Brasil, mais a América Latina como um todo se aproximará da China, o que ele considera um "tiro no pé" por parte dos EUA.